domingo, 12 de abril de 2020

Lamento





Em isolamento
lamento, lamento...
São dias sem fim!
Sonho toque e beijo,
acordo e lamento:
estão longe de mim

Isoladamente
(perdoe que eu lamente)
sigo meu penar..
Ansiando chamegos,
desesperadamente,
confinada em meu lar .

Ouvindo meu lamento
(um mudo lamento)
Bem-te-vi pousou.
Viu meu sofrimento
apiedou-se do momento
e a mim se aconchegou.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Toca o barco.

Mais uma tragédia no recém começado 2019, contabilizando quatro em 40 dias...
A Polyanna que mora dentro de mim, já tem, na ponta da língua, o lado bom da coisa. Porque tudo sempre tem seu lado bom, é só procurar. Com algum treino, fica fácil achar.
As tragédias que envolveram comunidades inteiras como Brumadinho e as chuvas no Rio, com perdas de vidas e bens, deixando muitos desabrigados, mobilizou todo o país. Pessoas se solidarizam e muitas vezes esquecem pequenas brigas e problemas para pensar em ajudar. Nestes momentos, as redes sociais se tornam menos agressivas e fúteis para compartilhar pedidos de donativos e orações (Aleluia).
E veio a tragédia com as crianças do Flamengo.   Foi lindo ver a comunhão de todos os times, deixando de lado a costumeira rivalidade. Abraçados, torcedores vestindo diversas camisas fizeram homenagens e cantaram o hino rubro-negro.
Ontem, a morte repentina do jornalista favorito do Brasil (se já desconfiávamos desse fato, agora tivemos certeza, pela comoção que causou seu passamento), mais que um âncora, um pilar do jornalismo brasileiro. As TVs, sempre tão envolvidas na concorrência pelo olhar do telespectador, atentas aos níveis de audiência, matando e morrendo pelo furo da notícia, só fizeram, em uníssono, reverenciar nosso querido Ricardo Boechat, mostrando imagens umas das outras na tentativa de melhor mostrar a trajetória de sucesso do querido colega, respeitado e amado por todos.
Agora Polyanna vai ali tomar um sorvete, e fica aqui essa cronista pobre mortal, com seus questionamentos não tão otimistas. E o que me pergunto é: por que essa Humanidade que sempre se apresenta individualista e agressiva só consegue mostrar seu outro lado, aquele cheio de empatia e amor ao próximo, depois de muito sofrimento?
O caminho da evolução ainda é longo...  Mas chegaremos lá.
Toca o barco!

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Segunda Alegoria da Caverna

Os garotos bloqueados na caverna
Foto: El Pais (GETTY)

Na última semana a Humanidade assistiu a uma nova “Alegoria da Caverna”.
A primeira, descrita por Platão em seu livro República, trata de nossa relação com o mundo exterior e suas influências sobre nós.
Já esta segunda, a nós apresentada pelos meninos tailandeses, diz respeito ao nosso mundo interior e nosso controle sobre ele. Ensina-nos quatro lições.
Primeira: Serenidade
Quando as primeiras imagens do pequeno grupo, isolado muitos metros abaixo da superfície, nos chegaram pela TV, o que mais impressionou foi a serenidade de seus rostos infantis. Há nove dias presos, sem alimento e sem perspectiva, eles apresentavam o semblante de quem acabara de ir brincar no quintal de casa... Nenhuma angústia, nenhum medo. Nem mesmo o alívio por terem sido encontrados era exagerado. Nada de gritos e choro. Apenas alegria e gratidão misturadas placidamente naquelas expressões faciais... Sua cultura milenarmente voltada para o autoconhecimento e a imprescindível orientação de um professor que já foi um monge budista tornaram os dias no cativeiro natural muito mais fáceis de suportar.
Segunda: Positividade
Os pequenos jogadores de futebol escreveram cartas a suas famílias e nelas não havia palavras de sofrimentos e dor, apelos e lamentações. Havia positividade. “Mamãe, papai, estou bem, não se preocupem, posso cuidar de mim.”  Ou “Diga a vovó que quero comer torresmo com molho picante quando sair...” ou  “ Não se esqueçam de organizar minha festa de aniversário” . Não só o grupo, mas todos os envolvidos e por extensão, o mundo todo, apresentou uma atitude positiva em face dos acontecimentos. Não houve pensamentos de raiva, revanchismo, estrelismo. Ninguém acusando o técnico por ter levado os meninos em passeio perigoso, ninguém questionando autoridades por não haver um aviso de perigo a entrada da caverna. Ninguém em desespero, questionando o destino ... O mundo todo se uniu em orações, torcida, desejos de que o salvamento fosse um sucesso. Em nenhum momento houve pensamentos pessimistas. O mundo, unido na certeza do final feliz!
Terceira: Cooperação
Profissionais de diversas partes do planeta foram para a Tailândia com um só objetivo: oferecer seus conhecimentos e sua experiência para a resolução satisfatória do problema. Não havia desejo de gloria, de promoção pessoal. Apenas unir esforços e competências para um mesmo objetivo: salvar aquelas 13 vidas.
Quarta: Gratidão
Havia gratidão nos olhos dos pequenos Javalis Selvagens ao serem encontrados pelos mergulhadores ingleses. Gratidão também nas palavras de cada tailandês, por toda a ajuda recebida e a torcida por seus meninos. Gratidão ao professor que se doou para seus alunos, jejuando para que eles pudessem se alimentar. E, por fim, a gratidão de todo o planeta que, ao ter notícia do último indivíduo resgatado, emocionados, cada um agradeceu aos céus, ao universo ou a seu Deus, conforme sua crença.

A ciência tem comprovado o poder do pensamento. Serenidade, positividade, cooperação e gratidão. Somos feitos de energia e quando conseguimos mantê-la positiva e em harmonia com a energia de nossos semelhantes, podemos mover montanhas...
Esse jovem grupo de seres humanos foi instrumento do Universo para mostrar a todos nós a nossa força. Não percamos isso. Mantenhamos nossas energias positivas no bem, no amor, na fé e na paz. E teremos o poder de transformar o mundo!
                                                                                                              Luciane Madrid Cesar






domingo, 11 de fevereiro de 2018

De outros carnavais...




Pierrot e Colombina
               Raul Cesar

Pisei confetes, serpentina,
brinquei de amor com Colombina.
Nos carnavais do meu passado
Fui um Pierrot apaixonado

Mas veio o carnaval da vida
e, de vencida, levou você.
E o tempo que ficou marcando
deixou sangrando o meu viver.

Agora os carnavais
pra mim não servem mais.
Não quero mais brincar de amor
Há muitas colombinas
Confetes, serpentinas
Mas nunca mais serei Pierrot

(Marcha Rancho de autoria de Raul Cesar escrita em 1973)

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Fim de tarde

O menino e seu cão
Casais de mãos dadas
Famílias
Ciclistas voltam do trabalho,
se exercitam.
passeiam.
Mais a frente:
o frescobol,
a pelada, o volei...
Caminhadas á beira-mar para catar conchinhas,,,
Guarda-sóis que se recolhem,
cadeiras que ainda sustentam banhistas e suas conversas
As derradeiras cervejas, o último picolé.
Um pai brincando com sua filha que corre às gargalhadas.
Um poeta
e mais uma
poesia do fim de tarde...


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O Catador

Empurrando um carrinho de lixo reciclável,
ele passa falando difícil.
Um louco delirante, diriam...

Qual será sua história?

Brada impropérios, grita
Parece estar em euforia etílica.

Um cão o segue, fielmente,
como só cães sabem fazer.
O animal enxerga no homem
muito mais do que nós, seus semelhantes...

Passa por mim e mal me percebe,
divagando filosoficamente,
já em voz aceitável.
Murmura auto-analises, fala em reconhecermos os próprios erros.
Sabe muito mais do que eu,
aqui , à toa, a escrever sobre ele!

Sabores da vida

Aos 13 anos, ela ganhou de sua avó um caderno de receitas, desses que a gente vai anotando o passo-a-passo das comidas preferidas. O caderno tinha quatro repartições com os títulos:
-Salgados,
-Doces,
-Bebidas
E uma última, misteriosa, intitulada: - Sabores da vida .
Nos primeiros dias anotou suas receitas de doces e salgados: bolo de chocolate, panquecas, macarrão alho-e-óleo... e as bebidinhas que mais gostava: suco de laranja e cenoura, capuccino, milkshake de chocolate. Como não sabia o que escrever na última parte, nem a abriu. Passada a novidade, o caderno ficou esquecido em uma gaveta da cômoda.
Com 20 anos, foi morar sozinha. Ao arrumar as coisas para a mudança, encontrou o tal caderno. Olhou-o saudosa e o juntou a bagagem, pressentindo que lhe seria util agora, já que faria sua própria comida. Antes de guardá - lo , folheou-o e abriu também a última parte. Surpresa, notou que havia alguma coisa escrita nela. Não se recordava de ter escrito nada ali. Mas agora havia uma lista de 8 itens:
- O calor das mãos de meu pai a segurar a minha,
- O gosto da chuva quando se dá gargalhadas olhando para cima,
- O bolinho de arroz da mamãe,
- Minha cama, depois de um dia de muita agitação,
- As risadas com minhas amigas,
- Correr descalça pela grama,
- Fazer bolhas de sabão,
- Roupa nova e desejada.
Que verdades eram aquelas! Mas apesar da letra se parecer com a sua, definitivamente, não foi escrito por ela. Parecia que se haviam escrito sozinhas... que loucura!
Mas era isso mesmo, como constatou depois. Algumas coisas apareciam escritas e refletiam exatamente as pequenas coisas boas da vida. A magia durou ainda mais um ano aumentando o número de itens para 15. Depois parou. Cabia a ela, então, descobrir e anotar as pequenas alegrias dali em diante, ao que parecia .
E assim o fez. Além das receitas, escrevia vez ou outra, um sabor da vida.
Esse caderno a acompanhou por muitos anos.
Ajudou-a a dar valor às pequenas coisas. A saber o quanto a vida é cheia de sabores, apesar dos dissabores.
Ajudou-a a ver os pequenos detalhes que fazem tudo valer a pena.
Sempre que alguém se sentia infeliz, mostrava-lhe seu caderno de receitas.

Não que haja uma receita de felicidade. 
Mas importante é não perder o paladar para apreciar todas as delícias que a vida tem.