terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Cadê meu beijo na testa?

Domingo passado fez 28 anos que meu querido pai deixou a Terra. Tenho pensado nele com frequência, lembrando-me, especialmente, de seu jeito amoroso de ser.
Em nosso pequeno apartamento estávamos sempre todos muito juntos e atitudes carinhosas eram abundantes ali. Ele era um beijoqueiro: sempre que passávamos por perto dele, eu e minha mãe, dava-nos um beijo na testa. Nunca ficávamos sem um "bom dia" ou um "boa noite". Orávamos sempre antes das refeições; e à noite, junto ao "durma bem" vinha o "não se esqueçam de rezar". Havia sempre um beijo de despedida ou de boas vindas sempre que saíssemos ou chegássemos, ainda que o destino fosse só a padaria ali perto.
O mundo mudou muito nestes 28 anos. E ainda que isso pareça um desabafo retrógrado (como quando nós, jovens, achávamos bobagem nossos pais dizerem que a TV acabou com a conversa familiar), assusta-me ver como o distanciamento se acelera e embota nossa capacidade de conviver.
Hoje acordamos pela manhã e, antes de qualquer coisa, pegamos o celular para enviar e receber lindas mensagens de "bom dia", repletas de palavras de afeto e bom ânimo. Depois nos levantamos da cama e "amarramos a cara", sem coragem de dar um sorriso às pessoas da família que encontramos pela casa. Beijos na testa estão em extinção. Os beijos reais agora, em sua maioria, têm conotação sexual. Beijar amigos e entes queridos? Para isso existem as boquinhas vermelhas e carinhas com biquinhos, os emojis. As orações, em profusão, são compartilhadas e mal lidas nas redes sociais, numa teoria que não pomos em prática.
Acho que é a idade... Mas tenho muita saudade dos "bom dia" falados e dos beijos na testa!