segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Reveillon

Todo final de ano deveríamos fazer uma reflexão:
Olhar para trás e ver o que valeu a pena, o que não queremos repetir, o que podemos fazer melhor ...

Para ajudar a fazer melhor, as simpatias de Ano Novo pregam o uso, na hora da virada, de cores específicas para cada caso:
Vermelho chama Paixão – você já tem o suficiente? Precisa de mais?
Rosa promete romance, para os solteiros e descasados. Ou para aqueles que caíram na rotina...
Amarelo, claro, é o dinheiro, que mesmo tendo suficiente, todo mundo sempre quer mais um pouquinho...
Azul é saúde – e a gente só se lembra dela quando ela falta!!
Verde é esperança, que a gente sempre tem, usando no Réveillon ou não.
Lilás remete à espiritualidade, que a gente não se preocupa muito em pedir... e deveríamos!

Mas a cor que predomina mesmo não é uma cor, segundo os cientistas.
E sua definição é ainda mais bonita que ela própria: “Presença de luz” – .
Caixa de texto: Branco

Branco significa PAZ.
Porque sem PAZ, todo o resto perde o sentido.
Sem PAZ,
Paixão vira obsessão;
romance se enche de ciúmes;
dinheiro vem junto com a avareza e a inveja;
saúde torna-se hipocondríaca;
E a esperança não chega.

Para obter a PAZ não é só vestir branco na passagem de ano.
Ela exige um pouco mais que isso:

A PAZ se consegue na fraternidade,
Na certeza do dever cumprido,
No cuidado com o próximo e com o mundo em que vivemos,
Na conexão com o Alto, não importando a crença ou, a ausência dela,
no acreditar no Amor que existe dentro de cada Ser Humano.

Seja qual for a cor que escolhamos para usar neste Ano Novo,
antes de qualquer coisa, desejemos a PAZ.


Desejo a vocês, meus amigos, muita PAZ, dentro e fora de seus corações...
O resto vem em conseqüência!

FELIZ 2014!!!

Trilha Sonora

TRILHA SONORA

Hoje Abílio vai experimentar um restaurante novo. Não que seja de seu  feitio mudar seus hábitos. Mas a cantina onde almoçara todos os dias nos últimos dez anos havia fechado as portas. Culpa dessa crise horrorosa que não perdoa quem vive honestamente. O dono, seu Alcides, até chorou ao lhe contar. Estava com muitas dívidas, não podia mais continuar. O movimento caiu demais...
Entrou no estabeleciemnto e parou. Olhou todo o ambiente, à procura uma mesa aprazível para fazer sua refeição. Mesa essa que seria sua constante durante os próximos anos. Encontrou uma, próximo ao fundo do lugar, que lhe pareceu agradável. Elegeu-a . Acomodou-se na cadeira, de frente para o salão, de costas para a parede. Assim podia observar o movimento. Logo um rapazinho afoito veio trazer-lhe o cardápio. A casa oferecia pouca variedade à la carte, mas ele estava interessado apenas no “prato do dia” , que, segundo lhe informou o garoto, consistia de arroz, feijão, salada e um tipo diferente de carne e de legume a cada dia. A salada era, quase sempre, de alface e tomate mas, às vezes, acontecia de ter beterraba, pepino ou cenoura ralada. Estava também incluído no preço um potinho pequeno de doce caseiro, feito pela esposa do dono, à escolher: leite, abóbora ou cidra.
Pareceu-lhe satisfatório, embora o preço fosse um pouco mais elevado do que o do Seu Alcides. Se o tempero fosse bom, estaria escolhido o lugar para seu almoço diário.
-          Bebida? - perguntou o garçon.
-          Não, obrigado. Líquidos às refeições são desaconselhados pelos médicos.
Enquanto esperava, pensava na vida solitária que levava aos 44 anos. Há quanto tempo almoçava sozinho? Perdeu a conta. Desde a morte de seu pai? Faz mais de quinze anos, então... Na janta comia um lanche, em casa mesmo, assistindo TV. Dormia cedo, depois do Jornal Nacional. Acordava também cedo e passava uma hora, aproximadamente, cuidando da higiene pessoal: banho, barba, dentes...Depois saía para o trabalho, com tempo de passar na padaria do Seu Manoel para um café com leite e um pão com manteiga. A rotina lhe dava segurança.
Chegou a refeição.
Entre uma garfada e outra, continuava a pensar na vida. Seus fins de semana eram preenchidos pelos filmes antigos que gostava de ver. Era apaixonado por cinema. Orgulhava-se de conhecer tudo sobre os enredos, atores e trilhas sonoras.
Estava neste ponto seus pensamentos quando seus ouvidos captaram um som familiar. Uma música, cantarolada em tom abafado, chegava a ele neste momento e ele a reconheceu:  “Cantando na chuva”, tema do filme do mesmo nome, produzido em 1952 com Gene Kelly e Debbie Reynolds. Quem estaria relembrando essa maravilha. Ficou ali apreciando a bela voz de soprano e quase se esqueceu da hora. Teve que sair às pressas para não se atrasar para o trabalho.
No dia seguinte chegou ao restaurante no mesmo horário. Sentou-se à mesa no fundo e fez o pedido. Começava a comer quando novamente a voz feminina começou a cantarolar. Desta vez era a música cantada por Marilyn Monroe, no filme “Os Homens preferem as loiras” de 1954. A moça, provavelmente, não sabia a letra, em inglês, mas a melodia era essa mesma. Ele já havia assistido ao filme diversas vezes. Quem seria a pessoa por trás da linda voz? Chamou o garçom e, cautelosamente, tentou matar sua curiosidade:
-          Rapaz, de onde vem essa música?
_          Ah... é Adelina, a copeira. Canta o dia inteiro essas músicas horríveis que ninguém conhece.
Que blasfêmia!! Quis argumentar, mas resolveu deixar o ignorante prá lá. Percebeu que a cozinha devia estar atrás da parede em que sua cadeira se encostava. Ficou ali, apreciando a música, até quase se atrasar novamente.
Terceiro dia no novo restaurante. Abílio passou a manhã inquieto, ansioso por saber qual seria a música que ouviria ao almoço. Sentou-se, pediu e aguardou. Logo pode ouvir: “Pretty woman”, tema de “Uma linda mulher” - com a bela Julia Roberts e Richard Gere, rodado em 1990.
A tarde, ao ir para casa, passou na locadora e pegou o filme para rever.
Adelina, com certeza, era cinéfila como ele. Deitado em sua cama, começou a imaginar como ela seria. Perecida com Julia Roberts? Ou com Marilyn Monroe? Talvez um pouco de ambas... Cabelos encaracolados castanhos, mas curtos. Olhos azuis, lábios carnudos (Voz tão linda só poderias sair de uma boca bem torneada). Rosto oval, maçãs salientes. Corpo bem feito, mãos pequenas, pés delicados... Sentiu que seu corpo reagia a esses pensamentos. Deixou a imaginação fluir até adormecer. E em sonho, ele e ela eram o casal do filme, magnata e prostituta, vivendo uma história de amor.

Acordou feliz, mais tarde que de costume. Chegou um pouco atrasado ao escritório, cantarolando o tema da película vista na véspera, para espanto dos colegas. O calado e pontual Abílio não parecia o mesmo.
Aguardava impaciente o horário do almoço. Que novo filme o esperava?
Naquele dia foi “Ghost” , com Patrick Swayze e Demie Moore. E à noite ele sonhou que era um fantasma apaixonado por Adelina.
No outro foi “Ama-me com ternura”, com Elvis Presley, no outro “Viva Las Vegas” com Frank Sinatra. E todas as noites ele via o filme e sonhava com ela. Adelina, para ele, era aquela que idealizou no primeiro dia de encantamento. E em seus sonhos, tomavam sempre o lugar dos protagonistas do enredo do dia.
Aos domingos ela não trabalhava. E ele passou a não ir almoçar nestes dias. Ficava em casa revendo os filmes da semana e, às vezes, não comia o dia todo.
Passaram-se os dias, os meses, e Abílio era feliz nessa rotina, com seu amor idealizado. Julgava-se mesmo casado com a copeira, tão íntimo sentia-se dela.

Certo dia, terminado seu almoço, dirigia-se ao caixa. Ouviu então alguém atender o telefone no balcão a sua frente e dizer:

- Adelina? Só um momento que vou chamá-la.

E enquanto via o rapaz sumir pela porta da cozinha, entendeu que o momento chegara.
Seu coração disparou e suas pernas fraquejaram. Sua musa, finalmente, sairia de detrás da parede para alcançar seu campo de visão.
Tomou, então, uma firme decisão: Apressando-se a frente de outro cliente na fila, deixou a conta e uma nota de cinquenta reais sobre o guichê do caixa. Alcançou a porta da rua, sem esperar pelo troco. A passadas largas, caminhava em retorno ao escritório, enquanto justificava para si mesmo:

- Para que vê-la agora? Eu a encontrarei mais tarde, em meus sonhos. É bobagem vê-la agora...

Amigo

Amigo


Perdida, eu busquei refúgio
nas águas revoltas do rio.
Desvario...
Seguiram seu curso
sem se preocupar com um coração sombrio.

Sozinha, procurei ajuda
na negra abóbada estrelada.
Qual nada...
Estrelas são luzes,
Não sabem curar a alma magoada.

Cansada, só achei carinho
ao me encontrar contigo,
amigo...
Tuas doces palavras
ao meu espírito triste

ofereceram abrigo.

AS ROSAS FALAM



Ao amanhecer, as rosas já estavam lá. Isso, diariamente. Eram rosas pequenas, cor-de-rosa, singelas como um amor juvenil. Surgiam do nada, colocadas cuidadosamente na soleira da porta. Sempre em número de cinco. Para Mariana era uma alegria acordar pela manhã e abrir a porta de entrada. Lá estavam elas, não importava a hora. As cinco rosas chegavam com o amanhecer. Todos, e especialmente todas na casa estavam encantadas com a novidade. Um admirador secreto? E, de quem? De Mariana, claro, a única solteira. E a primeira a sair de casa todas as manhãs para lecionar. Ela já pegava as flores como se fossem suas. Mas era sua avó quem as colocava no vaso.
Sua tia Jussara, uma senhora de cinqüenta anos que vivia às turras com o marido aposentado, gostava de pensar , secretamente, que o apaixonado presenteava a ela. Tinha seus motivos. Casaram-se há cinco anos e não tiveram filhos. Diziam as más linguas que ela se casou por medo de ficar solteira. E ele, por medo de ficar pobre. Logo perceberam o erro que cometeram. Mas acomodaram-se na situação. Ele afogava suas frustrações no bar, ela na internet. Conheceu virtualmente alguns homens interessantes. Nunca dera seu nome verdadeiro, nem endereço ou telefone. Mas alimentava uma esperança de que algum deles tivesse descoberto sua identidade e agora lhe mandava flores.
A casa que recebia as rosas era grande e bonita e a família vivia bem, sem problemas financeiros.
Mariana, tinha 23 anos. Aos cinco, perdeu os pais em um acidente de carro. Ficaram ela e o irmão Bruno, dois anos mais novo, aos cuidados da tia Jussara e dos avós maternos. Mariana era de paz. Passava horas lendo em seu quarto. Se não estava lendo, estava desenhando. Passou assim toda a infância e adolescência. Aos 18 anos começou a namorar um rapaz que conhecera numa festa. Foi uma paixão avassaladora. O casal causava inveja. Tanto amor, durou três anos. Ele conseguiu um emprego em São Paulo e, com a distância, o sentimento esfriou. Certo dia, Mariana descobriu que não queria mais. Terminaram.
Há três meses ela recebeu um telefonema dele, dizendo que estava de volta:
- Poderíamos voltar a nos encontrar, meu bem, o que você acha?
- Melhor não, Ricardo. Nosso tempo passou.
Ele insistiu algumas vezes, ligando no seu celular ou mandando recados por amigos em comum. Ela não cedeu. Sabia que não conseguiria sentir mais nada por ele. Agora suspeitava que ele fosse o responsável pelas rosas matinais.
Quando o avô de Mariana faleceu, sua avó, Dona Geralda,  quase morreu junto. Estavam casados há cinqüenta anos. Haviam feito uma linda festa de bodas de ouro um mês antes de sua morte. Eram um casal muito feliz. Ele  sempre cheio de paciência com as rabugices dela. Ela sempre preocupada com a alimentação dele. Pareciam aqueles casais de comercial de margarina. Dava gosto ver. A rapidez com que lhe foi tirado o marido abalou imensamente a velha senhora. Caiu em depressão e quase morreu. Não queria comer e nem sair de casa. Aos poucos, com a dedicação da filha e da neta, foi se recuperando. Quando já tinha forças para andar novamente, passou a visitar o túmulo do marido no cemitério. Isso começou há mais ou menos três meses. Ia todos os dias, religiosamente, às três da tarde. Não faltava nunca. Às vezes pegava uma ou duas rosas do admirador misterioso, com o consentimento de Mariana, para levar. Chegou a pensar, certa vez, que as rosas vinham de uma pessoa bondosa que a via ir ao cemitério todos os dias, uma vez que as rosas passaram a aparecer dois dias depois de sua primeira visita ao Mausoléu do esposo. Seriam, portanto, para ela as flores. Mas este foi uma idéia passageira, muito pouco provável.
Certo dia, o tio de Mariana trouxe para casa um velho amigo de seu pai, Seu Amadeu. Um senhor já bem idoso, mas muito simpático e comunicativo. Ficou horas conversando com toda a família e saiu da casa com a promessa de retornar na tarde seguinte para um jogo de canastra com o casal e a simpática vovó. Com este acontecimento, Dona Geralda não foi ao cemitério. E nem no dia seguinte, e nem no outro. Resolveu deixar para ir aos domingos apenas.

Quatro ou cinco dias depois da primeira visita do velho Amadeu, ao abrir a porta de casa, Mariana deu um grito. As rosas estavam lá, mas despetaladas, como que pela fúria do vento. Despetaladas como um coração despedaçado E foi assim que continuaram aparecendo na porta, por longos anos, enquanto durou as reuniões vespertinas para o jogo de canastra... Continuavam sendo em número de cinco, e ninguém percebeu que cada rosa simbolizava dez anos de bodas...

Natal

O Natal e o Tempo



É Natal,
tempo de repensar a vida
Tempo de se voltar
Tempo de se comover
Tempo de se renovar
Tempo de se redimir
Tempo de se revelar
Tempo de se envolver
Tempo de se empolgar
Tempo de se comprometer
Tempo de se doar...

Tempo de decidir
se o tempo que nos separa
do próximo Natal
vai ser tempo
para amar.
Ou se vamos ser,
de novo,
gente sem tempo pra tudo
quando o Natal passar…