domingo, 23 de outubro de 2016

As invenções de Raul


Era o que ele fazia melhor!

Naquele tempo ele assistia TV até tarde. Para não incomodar o resto da casa, inventou um fone de ouvido (numa época em que não existia tal apetrecho). Prendeu uma mangueirinha no alto-falante do aparelho com um funil e, na outra ponta da mangueira, um funil menor se ajustava ao ouvido. O comprimento da mangueirinha era de acordo com a distância entre a cadeira e o televisor...

Era um tempo em que não existia papel toalha. A gente tirava a gordura das panelas, antes de lava-las, com papel de pão (num tempo em que o pão vinha embrulhado em papel e não em sacolinhas plásticas). Aí ele inventou de cortar o papel no tamanho necessário. E depois inventou um mecanismo feito com lata de óleo de soja (num tempo em que o óleo vinha em lata e não em garrafas plásticas) para pegar o papel já cortadinho de forma fácil, deixando sempre a ponta do próximo papel para ser puxada.

Era, também, um tempo em que se fervia o leite de saquinho e se comprava frutas embaladas em redinhas plásticas. Para tirar o leite ou a gordura grudados na panela, ele inventou de dobrar a redinha plástica das frutas, usando-a como uma esponja descartável.

Assim, ele inventou a reciclagem (num tempo em que ninguém se preocupava com isso)

E inventava músicas, poesias, desenhos e pinturas em quadros. E histórias.


Inventava, ainda, de nos dar beijo na cabeça toda vez que passava perto.

E de trazer cafezinhos e dizer que nos amava.

Um dia ele inventou de ir embora...

E nós tivemos que inventar um jeito de viver com saudade.